Fora do lar, dentro do negócio
Última edição

Novos caminhos para o vinho suave no Brasil

Restaurantes ainda relutam em incluir vinhos suaves nos cardápios, mesmo com a ampla aceitação entre os consumidores brasileiros. Foto: Canva

Tempo de leitura 5

Apesar da preferência nacional por vinhos suaves, muitos restaurantes ainda resistem a incluí-los em suas cartas, ignorando oportunidades de lucro e conexão com o paladar do cliente.

Luciano Andrade 30/04/2025 | 14:04

Imagine a situação: um casal decide celebrar uma data especial em um restaurante charmoso. Entre entradas e pratos principais, chega o momento de escolher o vinho. Com expectativa, perguntam ao sommelier: "Vocês têm algum vinho doce ou suave?" A resposta é um educado "não". Frustrados, acabam acompanhando o jantar com refrigerante.

Essa história, embora simples, escancara uma desconexão crescente entre o que os consumidores desejam e o que os restaurantes oferecem. O mercado brasileiro de vinhos é dominado pelos vinhos suaves. Segundo a Mintel, cerca de 69% do volume consumido é de vinhos de mesa, enquanto os vinhos finos respondem por 31%.

Ou seja, o gosto popular já está estabelecido: o brasileiro gosta de vinhos mais doces. No entanto, nas cartas dos restaurantes, prevalecem opções secas e, muitas vezes, importadas — um reflexo de uma cultura que associa sofisticação apenas ao paladar seco e europeu.

Mas será que ser sofisticado significa ignorar as preferências do público?

A resistência em oferecer vinhos suaves está mais ligada ao preconceito do que à qualidade. Muitos restaurantes preferem manter a imagem de requinte a incluir rótulos que atendam de fato aos desejos dos clientes.

O resultado são consumidores insatisfeitos e negócios que poderiam lucrar muito mais. Afinal, uma carta de vinhos pensada para a diversidade poderia ampliar as vendas e melhorar a experiência do cliente.

Incluir vinhos suaves de qualidade na carta é abraçar uma realidade de mercado. Um bom vinho é aquele que agrada a quem o bebe, e não aquele que se encaixa em um padrão imposto.

Hoje, o mundo caminha para valorizar experiências personalizadas. Gastronomia também é sobre acolhimento. E nada acolhe mais do que encontrar, na carta, um vinho que combina com seu paladar.

Uvas brasileiras como Lorena e Violeta produzem vinhos aromáticos e acessíveis, mas seguem subvalorizadas nas cartas de vinho. Foto: Canva

Variedades de uvas para vinhos suaves

Além da preferência popular, há um tesouro enológico nacional que permanece subaproveitado: nossas uvas híbridas e americanas. Variedades como Carmen, Rúbea, Lorena e Violeta produzem vinhos vibrantes, aromáticos e acessíveis, capazes de oferecer uma experiência única — muito diferente dos sabores "padronizados" de vinhos importados.

Esses vinhos também falam da nossa identidade, do nosso solo e da nossa cultura. Celebrá-los é, também, fortalecer o orgulho de ser brasileiro. Apostar em vinhos suaves é valorizar um patrimônio que emprega milhares de famílias, especialmente na Serra Gaúcha, que concentra 90% da produção vitivinícola nacional.

Imagine a diferença que faria se restaurantes começassem a criar harmonizações específicas para vinhos suaves? Um menu de sobremesas mais conectado com rótulos adocicados. Ou ainda, eventos de degustação que apresentassem o potencial gastronômico desses vinhos.

Mais do que "uma opção a mais", o vinho suave pode se tornar uma ferramenta estratégica para fidelizar clientes e gerar novas experiências gastronômicas. Assim como a coquetelaria aprendeu a valorizar diferentes perfis de sabor — do dry martini ao spritz adocicado —, o universo do vinho também pode (e deve) ser inclusivo.

Em resumo, não é sobre abandonar o vinho seco. É sobre somar. É sobre permitir que cada pessoa encontre seu próprio prazer na taça, sem constrangimentos. Um mercado maduro é aquele que respeita a diversidade de gostos — e que entende que vinho bom é aquele que emociona, seja ele seco, meio seco ou doce. O próximo brinde pode ser muito mais doce — e lucrativo — para todos.

 

*Luciano Andrade é head de marketing da CRS Brands, fabricante de bebidas que possui em seu portfólio marcas como o vinho Dom Bosco e a sidra Cereser.

**Este conteúdo é um artigo de opinião e não representa necessariamente a opinião da B&R.

 

tags

Assine gratuitamente nossa newsletter

E descubra os segredos dos melhores bares e restaurantes!

Ao enviar seus dados, você concorda com os Termos e Condições e Políticas de Privacidade do Portal B&R.

Relacionados