Imagine a situação: um casal decide celebrar uma data especial em um restaurante charmoso. Entre entradas e pratos principais, chega o momento de escolher o vinho. Com expectativa, perguntam ao sommelier: "Vocês têm algum vinho doce ou suave?" A resposta é um educado "não". Frustrados, acabam acompanhando o jantar com refrigerante.
Essa história, embora simples, escancara uma desconexão crescente entre o que os consumidores desejam e o que os restaurantes oferecem. O mercado brasileiro de vinhos é dominado pelos vinhos suaves. Segundo a Mintel, cerca de 69% do volume consumido é de vinhos de mesa, enquanto os vinhos finos respondem por 31%.
Ou seja, o gosto popular já está estabelecido: o brasileiro gosta de vinhos mais doces. No entanto, nas cartas dos restaurantes, prevalecem opções secas e, muitas vezes, importadas — um reflexo de uma cultura que associa sofisticação apenas ao paladar seco e europeu.
Mas será que ser sofisticado significa ignorar as preferências do público?
A resistência em oferecer vinhos suaves está mais ligada ao preconceito do que à qualidade. Muitos restaurantes preferem manter a imagem de requinte a incluir rótulos que atendam de fato aos desejos dos clientes.
O resultado são consumidores insatisfeitos e negócios que poderiam lucrar muito mais. Afinal, uma carta de vinhos pensada para a diversidade poderia ampliar as vendas e melhorar a experiência do cliente.
Incluir vinhos suaves de qualidade na carta é abraçar uma realidade de mercado. Um bom vinho é aquele que agrada a quem o bebe, e não aquele que se encaixa em um padrão imposto.
Hoje, o mundo caminha para valorizar experiências personalizadas. Gastronomia também é sobre acolhimento. E nada acolhe mais do que encontrar, na carta, um vinho que combina com seu paladar.
Variedades de uvas para vinhos suaves
Além da preferência popular, há um tesouro enológico nacional que permanece subaproveitado: nossas uvas híbridas e americanas. Variedades como Carmen, Rúbea, Lorena e Violeta produzem vinhos vibrantes, aromáticos e acessíveis, capazes de oferecer uma experiência única — muito diferente dos sabores "padronizados" de vinhos importados.
Esses vinhos também falam da nossa identidade, do nosso solo e da nossa cultura. Celebrá-los é, também, fortalecer o orgulho de ser brasileiro. Apostar em vinhos suaves é valorizar um patrimônio que emprega milhares de famílias, especialmente na Serra Gaúcha, que concentra 90% da produção vitivinícola nacional.
Imagine a diferença que faria se restaurantes começassem a criar harmonizações específicas para vinhos suaves? Um menu de sobremesas mais conectado com rótulos adocicados. Ou ainda, eventos de degustação que apresentassem o potencial gastronômico desses vinhos.
Mais do que "uma opção a mais", o vinho suave pode se tornar uma ferramenta estratégica para fidelizar clientes e gerar novas experiências gastronômicas. Assim como a coquetelaria aprendeu a valorizar diferentes perfis de sabor — do dry martini ao spritz adocicado —, o universo do vinho também pode (e deve) ser inclusivo.
Em resumo, não é sobre abandonar o vinho seco. É sobre somar. É sobre permitir que cada pessoa encontre seu próprio prazer na taça, sem constrangimentos. Um mercado maduro é aquele que respeita a diversidade de gostos — e que entende que vinho bom é aquele que emociona, seja ele seco, meio seco ou doce. O próximo brinde pode ser muito mais doce — e lucrativo — para todos.
*Luciano Andrade é head de marketing da CRS Brands, fabricante de bebidas que possui em seu portfólio marcas como o vinho Dom Bosco e a sidra Cereser.
**Este conteúdo é um artigo de opinião e não representa necessariamente a opinião da B&R.